A alta da taxa Selic impacta diretamente os juros do financiamento imobiliário. Quanto mais altos os juros, mais inacessíveis os financiamentos se tornam para as famílias. A demanda por imóveis fora das faixas de subsídio tem reduzido visivelmente, afetando a velocidade das vendas tanto de imóveis novos quanto de usados. Os preços tendem a se manter em um patamar menor do que nos períodos de juros baixos, mas eles não caem indefinidamente: existe um limite mínimo determinado pelo custo de aquisição e construção.
Se os juros continuarem subindo, a situação se agravaria, reduzindo ainda mais a velocidade de novos lançamentos e limitando os ganhos de quem incorpora. Mas essa não é a única preocupação para o futuro. Existe uma bomba-relógio adiante: a perspectiva de queda populacional em 15 anos, que poderá impactar muito a demanda por imóveis.
Diante desse cenário, podemos fazer previsões exatas sobre o futuro? Não. O mercado é uma força incontrolável, não importa os ventos, ele se adaptará. E o mais importante: construir não é só uma questão econômica. Construir vai muito além disso. É um fato social e cultural.
Construir reflete os valores e a identidade de nosso tempo e lugar. O cenário brasileiro apresenta desafios, é claro, mas quem souber lê-los corretamente encontrará o pote de ouro no final do arco-íris.
E já vemos os sinais da mudança.
Os sinais de um mercado em transformação
Com a limitação na possibilidade das famílias de adquirir bens, os imóveis de menor área e os mais populares têm se tornado mais procurados pelo menor custo. Nos apartamentos de luxo, bom, nos apartamentos de luxo não existe tempo ruim.
Empreendimentos turísticos também vivem uma lógica diferente. Com a moeda brasileira desvalorizada, o Brasil está em “promoção” para investidores estrangeiros, atraídos pelos juros altos e pelo poder de compra que sua moeda garante aqui. Oportunidades nunca deixam de existir.
E claro, temos os imóveis bem localizados. “Location, location, location” não é apenas um clichê do mercado imobiliário – é uma verdade econômica. Imóveis situados em áreas privilegiadas sempre encontram demanda, independentemente do ciclo do mercado.
O Futuro é uma Página em Branco
O futuro do mercado imobiliário é incerto? Sim. Mas o futuro de qualquer setor também é. Nem mesmo as tendências demográficas estão escritas em pedra. O mundo já viveu “baby booms” inesperados, e fluxos migratórios podem virar qualquer previsão de ponta-cabeça. A demografia é uma ciência com muitas variáveis, e prever seu impacto a médio e longo prazo é um desafio.
Mas uma coisa é certa: a demanda imobiliária nunca é apenas uma equação econômica. Há um impulso humano em construir e criar espaços que reflitam nossa identidade e história. Se assim não fosse, não teríamos as pirâmides do Egito, a Torre Eiffel ou as catedrais góticas. Claro, quem não souber fazer conta não sobrevive no mercado, mas há algo além dos números.
Quem propuser produtos que além de viáveis sejam criativos e com identidade terá nas mãos “a faca e o queijo”. Valores culturais, sociais e históricos ajudam os imóveis a reter valor. O que não tem identidade, vê seu preço evaporar.
Talvez por isso a localização seja tão fundamental no mercado imobiliário, o local conta uma história de laços, relações e rotinas.
Mudam as regras, mas o jogo continua
Enquanto a vida humana for relevante, a construção civil sempre será essencial. O setor sobreviveu a guerras, crises econômicas e mudanças culturais drásticas. Ele se adaptou a cada época, não importando quais tenham sido as demandas culturais, sociais ou econômicas.
A inovação é a chave. Novas necessidades sempre trarão novas oportunidades. Edifícios antigos, cuja identidade não sobreviver às mudanças dos tempos, darão lugar a novas construções ou serão reinterpretados para atender a um mundo em transformação. O que é realmente poderoso, permanece.
O mercado imobiliário não vai acabar. Ele apenas vai encontrar novas formas de existir. E quem estiver preparado para essas transformações terá o futuro em suas mãos.
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Texto de autoria de Mauricio Felzemburgh, Sócio fundador da Build UP, Arquiteto e Urbanista, Professor universitário, Doutor em Arquitetura e Urbanismo, possui especializações em Engenharia de Segurança do Trabalho e Engenharia de instalações
